“...Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.” (Mt 3.11)
É mais que comum ouvirmos hoje expressões do tipo: igreja do fogo, crente do fogo ou crente sem fogo, culto com fogo e outras tantas que bem conhecemos. Via de regra, o texto utilizado para alicerçar esse uso constante do fogo é o citado acima. Mas, o que de fato queria João Batista dizer com isso? Seria um precedente aberto para que crentes buscassem o fogo de Deus sobre si? Seria, talvez, uma ordem para que cristãos buscassem receber o Espírito Santo, como se já não o tivessem? Essas são perguntas pertinentes que crentes sinceros devem buscar respostas relevantes, principalmente em tempos em que pessoas vivem “evangelhos” superficiais e desprovidos de base bíblica.
No texto citado, João Batista cujo ministério era preparar o caminho para o messias estava justamente anunciando a vinda do Cristo que batizaria pessoas com o Espírito Santo e com o Fogo, mas, para quem era o Espírito Santo, para quem era o fogo, aliás, o que era o fogo?
É de suma importância analisarmos o real significado destas expressões, visto tratarem-se de umas das mais mal interpretadas de todo o Novo Testamento.
O texto diz que Cristo batizará os seus seguidores com o Espírito Santo, ou seja, fará com que o Seu Espírito venha sobre seus discípulos e os conceda dons.
Esse texto, em parte, já teve seu cumprimento em Atos 2, no dia de pentecostes, em que o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos e fez com línguas como que de fogo aparecessem sobre as cabeças de cada um deles.
Entretanto, entendemos que sempre que alguém é convertido, tirado das trevas e transferido para o domínio soberano de Cristo, este alguém, no momento da conversão, é selado (batizado) com o Espírito Santo e dotado com dons espirituais que deverão ser usados para a edificação do Corpo de Cristo. Esse batismo com o Espírito não pode ser buscado pelo crente como uma segunda bênção após a conversão, pois a palavra de Deus nos garante que uma vez que fomos salvos, já recebemos o selo do Espírito Santo.
“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para a redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória.” (Ef 1.13,14)
Isso não quer dizer, obviamente, que o crente deva viver num estado de frieza espiritual, antes, deve buscar sempre crescer na graça e no conhecimento de Cristo, enchendo-se cada dia mais do seu Espírito, contudo, sempre com a consciência de que já é habitação desse Espírito e que sua principal evidência são os frutos e não os dons (Gl 5.22).
Por outro lado, a menção do batismo com o fogo pode ser interpretada de duas maneiras. Nas Escrituras o fogo, com frequência, simboliza a ira de Deus (Dt 9.3), contudo indica também a obra da graça (Is 6.6,7). Portanto podemos interpretá-lo como uma bênção de purificação sobre os crentes e como o indicativo dos terrores do futuro dia do juízo. Ou seja, o batismo com fogo, de acordo com a bíblia, só pode ser duas coisas, ou a obra de santificação na vida dos filhos de Deus, ou o castigo eterno para os filhos do maligno. Isso é confirmado pelo versículo 12 que diz que Cristo limpará completamente a sua eira, recolhendo seu trigo no celeiro e queimando a palha num fogo que não se apaga.
Por fim, é importante frisar que a melhor maneira de se reconhecer uma igreja ou um indivíduo cheio do Espírito Santo é através do fruto do Espírito relatado em Gálatas 5. O uso, portanto, do termo fogo para indicar um culto, um indivíduo ou uma igreja saudável, a não ser que esteja atrelado à obra da santificação, é anti-bíblico e desconhecido por boa parte da história do Cristianismo.
Em Cristo, que nos selou com o seu Espírito e nos purifica como que pelo fogo.
Forte Abraço.
Jonathan Anderson